In Textos



"Hoje, me olhei no espelho e quase não me reconheci em meu próprio reflexo. Vi ali, naquela imagem, uma porção de pensamentos confusos, opiniões e desejos alheios. Vi padrões que me impuseram, vi formas que me obrigaram a seguir. Vi o medo de não ser querido, de não ser agradável, de não ser gostável, amável, afável. O medo de não ser curtido.
É triste quando a gente se vê e não se encontra, não se aceita, não se gosta. É que o mundo acaba nos afastando de nós mesmos. Da nossa essência. Da nossa consciência. As pessoas, principalmente elas, acabam nos moldando para sermos o que elas precisam. Mas, no fim das contas, ninguém tem culpa por isso. Ou melhor, nós temos. É que a gente acaba aceitando todas essas imposições por medo. Por insegurança. Por receio de que o mundo não nos aceite como nós realmente somos.
Depois de todo o choque de realidade de não me encontrar em mim mesmo, resolvi reafirmar para aquela figura tudo aquilo que eu sabia sobre ela. Comecei repetindo em voz alta o meu próprio nome. Assim, como quem está tentando ter certeza de qualquer coisa ou quer se certificar de que não perdeu a memória. Meu nome, talvez, seja a principal característica de quem eu sou. Se nem ele fizer sentido para mim, de nada vai adiantar todo o resto.
O segundo passo para me aceitar sendo quem inevitavelmente sou foi repetir tudo e todos aqueles que não sou. Não sou aquele que mais odeio, nem aquele que mais amo. Não sou aquele que canta a minha música favorita, que escreve o que preciso ler, nem o meu vizinho, meu colega de trabalho, aquela pessoa que admiro, aquela pessoa que abomino. Eu não sou os meus exemplos, não sou as minhas referências, não sou as minhas divergências.
Eu sou quem eu sou. Ainda que o mundo não goste, ainda que alguns não entendam, ainda que outros não suportem. Não sou nada além do que sou. Nem pretendo ser, é bom já deixar claro. Não pretendo ser quem você gosta, quem você entende ou quem você suporta. A minha única obrigação é comigo mesmo. A minha única obrigação é com a minha história.
Imediatamente, um arrepio me percorreu a espinha. O peso nas costas pareceu até diminuir. Minha voz já era outra. Parece que, finalmente, voltei para casa. Parece que, de uma vez por todas, deixei cair a ficha de que não preciso ser querido, ser agradável, ser gostável, amável, afável. Curtido. Eu só preciso ser alguém que se olhe no espelho e se reconheça. Eu só preciso existir para mim mesmo. O resto pode esperar." (Matheus Rocha)

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